sábado, 20 de outubro de 2001

Uma mensagem aos motoristas

São comuns as pessoas discutirem sobre futebol, política, e outros assuntos, com tanta veemência e paixão que por vezes chegam ao estremo e até as vias de fato. Outros declaram com tanta ênfase que seus carros são os melhores, assumindo uma atitude mesquinha e antipática. Afinal, por que tudo isso? Afinal, são por ventura diretores dos clubes ou seus jogadores? São políticos ou seus parentes? Ou ainda foram os projetistas que construíram os carros ou que tenham apertado pelo menos um só de seus parafusos? Não. Com toda certeza, não. Por que então tudo isso? A resposta é simples: essas pessoas são fúteis ocas, internamente vazias que buscam uma compensação externa na esperança de preencher sua vacuidade interna.
O que está acontecendo neste início de milênio é estarrecedor e lamentável, hoje, o ter vale mais que o ser; o carro vale mais que o motorista. O desejo insaciável do ter é a causa primária de todos os problemas que assolam a humanidade. Esta inversão de valores, motivada e mesmo imposta pelo asfixiante sistema econômico que declara equivocadamente que as pessoas valem pelo que elas têm, deverá ser imediatamente revogada e será fácil, basta que cada um compreenda que o ser é bem mais importante que o ter. Então...
O motorista consciente é feliz, porque considera o pedestre. A preferência é sua, amigo pedestre, eu lhe espero, estou de carro, portanto sou mais rápido.
O motorista consciente é feliz, porque compreende seus colegas e não interrompe o trânsito quer rodando em baixa velocidade ou parando em fila dupla.
O motorista consciente é feliz, porque aguarda serenamente a sua vez, não insistindo ou buzinando nervosamente.
O motorista consciente é feliz, porque não grita e nem xinga o colega quando este erra, mas o cumprimenta e lhe oferece ajuda.
O motorista consciente é feliz, porque dirige em velocidade correta pois assim entende e não por medo de radares e multas.
O motorista consciente é feliz, porque é cuidadoso, tranqüilo, útil, prestativo... Enfim é um cidadão.
Oxalá nossas autoridades na área do trânsito, também fossem conscientes e procurassem orientar amorosamente os motoristas e não valer de seus descuidos e equívocos para lhes multar com valores elevados que embora legais, são injustas visto punir mais o pobre do que o rico e deixando perceber claramente que exploram delitos e vendem perdões.
Estamos terminando o primeiro ano do século XXI e iniciando um novo procedimento, que será certamente a característica fundamental deste Terceiro Milênio e a nossa redenção.
Oxalá, todos assim compreendesse...

domingo, 19 de agosto de 2001

Thomas Edison

Thomas Alva Edson foi um físico americano, inventor de inúmeros aparelhos elétricos, entre outros, o fonógrafo, precursor dos atuais CDs e a lâmpada de incandescência (1847 - 1931). Conta-se que em certo dia, exausto, depois de muito trabalhar em busca da sonhada lâmpada, seu assistente observou: desista Thomas, nós já fizemos mais de setecentas experiências que não deram certo, tudo em vão, portanto desista. Como? Desistir? Agora que estamos setecentos passos na frente? Agora que já conhecemos setecentos caminhos errados? Agora não! Jamais... Continuou e pouco tempo depois, acabou descobrindo a lâmpada elétrica tão desejada e que a todos nós ilumina. Este pequeno relato traz, contudo, muitas luzes para clarear os difíceis momentos que havemos de passar, iluminando os sinuosos e acidentados caminhos de nossa vida.
Entendemos primeiramente, que as grandes realizações não são fáceis e somente os persistentes alcançarão êxito. No mundo em que vivemos, os erros e os fracassos são constantes e inevitáveis; o importante porem, é saber interpretar as falhas e construir os acertos, como Thomas Edson que conseguiu inventar a lâmpada elétrica somente depois de ter errado mais de setecentas vezes. O erro é um sinal de alerta e não um tributo ao individuo, é um acidente e não propriamente um mal, e que não deve ser censurado, mas compreendido pois quando vencido, é o degrau para o sucesso.
Entretanto, o homem de hoje não vê desta maneira, e em sua avaliação, considera o erro como resultado negativo e somente este é contabilizado, mostrando equivocadamente, que neste processo, o vício é mais forte que a virtude, e quanta injustiça se comete. Devemos mudar o nosso procedimento e aprender avaliar as pessoas considerando os acertos e não as suas falhas. Este procedimento positivo constitui um estímulo ao crescimento de todos. Afirmo que se Thomas Edson fosse tão intransigente com o erro, hoje estaríamos às escuras. Assim esperamos e desejamos que um dia assim seja.

quarta-feira, 15 de agosto de 2001

A negligência e o excesso de zelo

Tudo indica que a autodefesa constitui a principal forma para atender ao instinto de conservação dos seres. Os vegetais buscam a luz inclinando-se em sua direção ou aumentando seu caule, como as árvores, tornando-se mais altas como se vê nas matas; outras se satisfazem com lugares menos iluminados. Nos animais, as formas de autodefesa são mais variadas, assim o leão e o tigre que são os mais fortes, confiam em suas presas e garras, portanto são tranqüilos. A corsa se defende pela velocidade, a raposa pela astúcia, e muitos insetos pelo mimetismo, assim a frágil borboleta adquire as tonalidades do ambiente, outras abrindo as asas coloridas, se apresentam como se fossem verdadeiros e horríveis predadores, livrando de ser devoradas. E o homem?
Este se defende das mais variadas formas. Devido sua inteligência, emprega armas, armadilhas, e outros recursos e dependendo do agressor, recorre aos meios de comunicação valendo-se da mentira, oferecendo vantagens, como no caso de políticos, que usam a demagogia, cujo princípio é a ambição, e não sabemos bem, se do eleitor ou do candidato, provavelmente de ambos. Uma coisa é certa: fora o homem menos ambicioso e seria menos enganado.
Dentre os maiores agressores do homem, está ele próprio e defender de si mesmo, é a tarefa mais difícil, uma vez que não pode contar com armas, surpresa, mentira, promessa, demagogia e muitos outros recursos que são de grande eficácia contra os demais, mas não contra si mesmo. Isto porque ele é agressor e vítima. È o ego contra a consciência.
Ignorar a agressão o deixa vítima; combate-la o incomoda, então concilia. O acordo se faz tomando uma medida aparentemente severa e supostamente eficaz, apenas para anestesiar a consciência que é a verdadeira vítima, mas sem punir o ego agressor. Esta prática tão sutil é freqüentemente empregada por muitas autoridades, que negligenciando suas obrigações, logo propõem uma medida excessiva, severa fugaz, mas impraticável, conhecida por excesso de zelo, suficiente apenas para anestesia-lo, somente para inglês ver, mas não para resolver. E a vida continua...

domingo, 29 de julho de 2001

Uma proposta alternativa

Acabamos de ingressar no terceiro milênio da era cristã, caracterizado mais pelo desenvolvimento técnico-cientifico do que pela fé religiosa, pois com a experiência retratada no cotidiano, vê-se quantas vezes o ódio tem sido mais forte do que o amor, e a vingança mais do que o perdão. A esperança de redenção do homem parece distanciar-se. Precisamos, urgentemente, abandonar os procedimentos antigos que se mostraram ineficazes, visto as freqüentes notícias sobre os crimes, rebeliões nos presídios, corrupção de políticos, furtos, estupros e outros, e buscar novos horizontes para renovar nossas esperanças.
Não somente o homem, mas muitas espécies de animais, também vivem em sociedade exigindo uma disciplina para tornar o ambiente propício e agradável, portanto necessitam de um líder, de um governo. Vivemos em uma democracia onde o poder emana do povo, assim as autoridades constituídas, são apenas funcionárias e serviçais do povo. A sociedade é a senhora e os governantes são seus empregados. Enquanto tais autoridades, não reconhecer esta condição, continuarão despóticas e autoritárias e não cumprirão suas obrigações e quem pagará e sofrerá, é sempre o povo como muito tem acontecido.
Governar é dirigir, orientar, dedicar, amar... Entretanto, o que recebemos são repreensões, castigos, punições, explorações, humilhações... Os exemplos além de abundantes são ainda mais horripilantes. Injustiça e mais injustiça se praticam em nome da justiça. Violência e mais violência se praticam dizendo combater a violência. Especificamente, tudo isso acontece com freqüência, na área do trânsito. Entendemos facilmente a necessidade de uma legislação para nortear e orientar os motoristas, mas discordamos totalmente do tratamento dispensado aos que erram. Estes em vez de ser tratados com cuidado e carinho, são, entretanto, agredidos, violentados e explorados com multas excessivas, que não corrigem em nada o infrator, visto que as multas não dão a eles as orientações de que necessitam, mas apenas enchem os cofres públicos para ser depois, marotamente esvaziados. Ora se um motorista cometeu certa infração, é porque a ocasião assim exigia, ou porque não conhecia bem o código e neste caso deveria ser reciclado e conscientizado com palestra educativa. Será que apenas multado ele aprenderia tudo isso? Além do que, a multa é injusta, porque pune mais o pobre do que o rico, mostrando ainda que o Estado explora delitos e vende perdões. Considere-se por outro lado, a grande impropriedade que existe, pois os serviços de radares foram terceirizados, estando deste modo, atribuindo a empresas particulares, a tarefa de orientar, ou melhor, dizendo, punir o povo, tarefa esta, que é intransferível e exclusiva do Estado. Não fora o lucro tentador e a grande ambição, tais empresas não se habilitariam.
Os milhares de motoristas que foram multados sentem-se violentados. Então as autoridades competentes, em lugar de multar, deveriam oferecer primeiro uma reciclagem acompanhada de palestra educativa para que o motorista se aprimore mais, conhecendo melhor as normas do trânsito, e depois, determine dentro de sua capacidade, para que repare o erro cometido, prestar um serviço na área social que é de maior proveito para a sociedade. Esse é o procedimento correto que deve ser adotado por nossos dirigentes, porque somente assim, as pessoas mudarão e o mundo ficará certamente melhor...

domingo, 20 de maio de 2001

Qual a função da universidade

Não há muita diferença entre o homem antigo com homem do terceiro milênio. Não obstante as modernas descobertas científicas, além da grande explosão demográfica, contudo, muitas indagações continuam sem respostas, pois desde a década de 50 quando iniciei minha carreira universitária, já se cogitava saber qual é a principal função da universidade e ainda hoje, se faz a mesma pergunta. Várias respostas e explicações são oferecidas, mas nenhuma nos satisfaz.
Dizem alguns professores que a principal função da universidade é formar profissionais. E para que? Se as empresas estão todas informatizadas e já trazem tudo normatizado e automatizado, uma vez que as industrias oferecem aparelhos e equipamentos altamente desenvolvidos e minuciosamente programados para executar operações complexas e que requerem apenas técnicos para operá-los. Até os organismos governamentais já estão normatizados e com normas sufocantes inibindo toda e qualquer iniciativa e criatividade do profissional, reduzindo-o a um simples e humilde técnico sem oportunidade para crescer e destacar. Há também de considerar o grande número de pessoas que ora trabalham em atividades bem diferentes das áreas que se formaram, sem levar em conta os muitos desempregados, que mesmo com os baixos salários impostos pelo asfixiante sistema econômico que hoje nos domina, explora, sacrifica e escraviza, não encontraram empregos. Tudo isso está incluído na expressão de que a universidade é um instrumento hegemônico do estado, acrescento eu: e também dos aproveitadores da sociedade. Então para que profissionais? Estas observações não constituem um protesto ou uma crítica, mas uma triste constatação, pois suas conseqüências já chegaram até a universidade, onde a descrença e o desânimo contaminam, alunos e professores. Embora a universidade possa formar profissional, contudo, esta não é a sua mais importante atividade, visto que muitas instituições também desempenham esta função como: o SENAI, SENAC e vários centros de formação profissional.
Outros declaram que a função principal da universidade é transmitir conhecimento. Pois bem, neste caso os verdadeiros agentes transmissores de conhecimento são os livros, mesmo porque os conhecimentos transmitidos pelos professores, além de poucos, tiveram origem neles e que nem todos são escritos por professores. Perto do final da segunda guerra, houve um grande desenvolvimento técnico-cientifico, destacando os estudos relativos ao átomo, que culminaram com a descoberta da bomba atômica e duas arrasadoras explosões, pondo um ponto final no conflito. Foi um espetáculo fantástico, magnífico em termos de ciência, pois o átomo estava dominado, mas o homem não, tanto que logo começou a guerra fria e as potências se armaram com um arsenal tão grande que era capaz de destruir quatro vezes o planeta e isso deixou a humanidade atônita, desesperada, estarrecida, reprovando, censurando, condenando, lastimando, maldizendo e erradamente insinuando que a ciência era perigosa e o conhecimento, em certas ocasiões, um grande mal, não percebendo que o erro foi cometido pelo homem e desde então, a universidade começou a negligenciar, iniciando sua desvalorização. Tempos atrás, foi instituída a merenda escolar para atender os milhares de alunos carentes. Assim, devido às dificuldades, muitos se matriculavam apenas para receber a sopa escolar. Semelhantemente, em virtude do desemprego, muitos recém formados e sem o devido preparo, se matriculavam nos poucos cursos de pós-graduação que havia, muitas vezes bem distantes de sua área de formação, isto é: em disciplina “nunca dantes navegada”, escolhida mais pelas possibilidades do que pela vocação, apenas para receber a bolsa de estudos e compensar o desemprego. A universidade, reconhecendo sua falha cometida com o curso de graduação e procurando sutilmente se desculpar e ao mesmo tempo se valorizar, passou a exigir o mestrado e atualmente, o doutorado e começou oferecer com intensidade tais cursos, principalmente por ser uma excelente fonte de recursos para ela e um ótimo complemento salarial para os professores, atribuindo-lhes uma hipervalorização, muitas vezes imerecida, mas capaz de mantê-la em evidencia, isto sim, a desvalorizou ainda mais. Sua negligencia e incapacidade, criaram um grave problema, pois agora, a maioria dos professores não quer lecionar para alunos do curso de graduação, já que não lhes rende mais status e nem dividendos extras. Este problema deverá ser resolvido rapidamente, através de uma reformulação de prioridades e sabemos de suas dificuldades, pois terão que ser feitos muitos acréscimos e várias abdicações, mas que são de extrema necessidade. Considere-se também, que hoje a lista de conhecimentos que dispõe a humanidade, cresceu assustadoramente e portanto o homem só é capaz de receber ou absorver uma pequena parte dela, não mais que um milionésimo por cento, e que pouco representa. Por tudo isso, o transmitir conhecimento não constitui o papel fundamental da universidade, posto que, o conhecimento em si não resolve, porque não redime.
Existem, entretanto aqueles que declaram que a principal função da universidade é gerar conhecimento. A experiência nos tem mostrado que os conhecimentos gerados pela universidade brasileira, além de poucos, são também de pouca valia, principalmente no contexto mundial, mesmo porque a imensa maioria dos nossos pesquisadores tem feito da pesquisa um simples meio de vida e não a realização de suas vocações, e mais, como o número de trabalhos publicado é a base do critério de avaliação do pesquisador, isso tem levado muitos deles a dividir sua pesquisa em várias partes, para aumentar o número de publicações; estas são as principais razões da baixa qualidade e do alto descrédito de nossas pesquisas. Por outro lado, muitas empresas procuram gerar seus próprios conhecimentos, assim as indústrias químicas da Du Pont gastaram em 1975 a importância de 360 milhões de dólares em pesquisas, utilizando cerca de 5000 pesquisadores. Os conhecimentos sobre a Astronáutica, Informática e ultimamente os relativos à leitura do código genético e muito outros, não tiveram origem na universidade. Concluímos que embora a universidade possa exercer esse papel, contudo não representa a sua principal função, uma vez que outras instituições também podem realizar esse trabalho e talvez até melhor.
Qual será então, a principal função da universidade?
Reclamam os professores dizendo que faltam verbas para pesquisas, que a universidade brasileira está sucateada, abandonada, esquecida, desvalorizada... Embora sendo verdade, entendemos claramente a atitude do governo, pois não conhecendo o seu grande valor, pouco a valoriza. Esta prática é tão natural que até os animais assim se comportam, é o caso do burro que desprezou uma barra de ouro em busca de um monte de feno. Não somente o governo tem desvalorizado a universidade, mas também os professores e talvez mais pela falta de verbo em suas aulas, do que o governo pela falta de verba, mesmo porque o verbo é o mais importante nesse trabalho de orientar corretamente o homem. Os próprios alunos e mesmo a sociedade têm desvalorizado e muito a universidade brasileira, como se retrata na vulgarização das festas de formatura, onde formandos e familiares esboçando um regozijo artificial, com escárnio, tocam cornetas, assoviam, gritam... Com alaridos, zombam e riem, numa atitude de autodefesa e procurando justificar, reduzem o valor de seus estudos, esperando diminuir as responsabilidades e anestesiar suas consciências para que cada um possa dizer: não esperem nada de mim, pois não me sinto preparado. Esta é a percepção triste daquele que teve a graça, de no passado, assistir a autenticas festas de formatura quando estas representavam verdadeiramente a liberdade e a redenção do profissional, chamado liberal e que hoje, não existe mais...
Ora, o que resta então à universidade ?
Cabe à universidade identificar sua verdadeira função, assumir sua posição e exercer seu verdadeiro mister, e para que tal aconteça, é necessário proceder a um estudo profundo e criterioso da sociedade, do homem e suas implicações.

sexta-feira, 27 de abril de 2001

A galinha dos ovos de ouro

Deste que o mundo é mundo, o homem busca realizar seus sonhos, satisfazer seus desejos e para consegui-los, não mede as conseqüências, não avalia as dificuldades e nem repara os erros; marcha resoluto em busca dos seus intentos na suposição de que os fins justificam os meios. Esta prática está tão generalizada que as pessoas, cegas pela ambição, nem percebem o mal que estão causando. Se este hábito se restringisse apenas ao povo, menos ruim, mas lamentavelmente já contaminou até as autoridades que nos governam. Eis um exemplo.
Entendemos que a principal função do governo é disciplinar o homem, com orientações próprias, no sentido de evitar a delinqüência, o desdize, a exploração, o crime, em resumo: a violência. Entretanto, estamos vendo passivamente, os nossos dirigentes negligenciando sua nobre missão, e valendo da autoridade, para sufocar e explorar o povo com a instalação de verdadeiras armadilhas e camufladas arapucas chamado radares que com frieza, sem talento para avaliar a situação, sabem apenas fotografar, delatar e depois multar os infratores declarando que procuram deste modo, diminuir a violência; violência não diminui violência, mas gera violência.
Estas autoridades estão enganadas em supor que as multas podem conduzir corretamente o homem, mas não conduz, pois aquele que age com receio de ser multado ou esperando uma recompensa, não faz conscientemente e sim interessadamente, portanto não é uma pessoa confiável, pois faltando a vigilância ou a recompensa, mudará certamente de conduta e por isso exigirá sempre, a presença de um guarda ou vigia que por sua vez, sendo homem, também poderá errar, e mais, quem vigiaria o vigia? E haja vigias...
Considere-se ainda, que a multa é injusta porque pune mais o pobre e seus familiares do que o rico, e devido ao seu alto valor, pode levar muitos à inadimplência, ao deslize, à corrupção e conseqüentemente à violência. Por beneficiar diretamente quem aplica, como nova forma de prover receita, torna-se difícil buscar o verdadeiro caminho, uma vez que ninguém mata a galinha dos ovos de ouro e quem padece como sempre, é o povo. Então, acreditar na eficácia da multa é pouca inteligência e muita esperteza. O único meio capaz de nortear corretamente o homem é pela consciência, portanto o infrator não deverá ser multado e sim, obrigado a fazer uma reciclagem acompanhada de palestra educativa para se corrigir, e reparar seu erro com prestação de serviços sociais determinado pelas autoridades. Oxalá um dia talvez, farão uma deliciosa canja com esta estranha galinha dos ovos de ouro...

terça-feira, 17 de abril de 2001

Laranjas e maçãs

O dia amanhecera lindo... Apenas uma pequenina nuvem branca manchava o azul do céu, refletindo a paz e a tranqüilidade, características das alturas e da imensidão celestial, contrapondo as guerras e os desesperos, próprios das baixezas terrenas. Embora do alto do céu, a terra pareça azul, na realidade é avermelhada, colorida pelo sangue diluído com lágrimas e suores derramados por milhares de infelizes que não encontraram um ombro amigo ou mesmo uma pedra onde repousar. Os problemas sociais que se avolumam em nossas cabeças, deixam o homem preocupado e aflito, em busca de soluções. Nem o grande desenvolvimento técnico-cientifico, marca fundamental deste terceiro milênio, será suficiente para diminui-los e hoje a humanidade ansiosa, procura desesperadamente um caminho.
Então, em casa, logo após o almoço, comentávamos sobre tais problemas que somente serão resolvidos, como dizem, quando houver a vontade política de nossos governantes.
Por que vontade política? Ora, simplesmente vontade. Pensem! E será que falta apenas vontade? Suponho que não, pois “com homens de boa vontade o inferno está cheio”.
Neste momento minha esposa, interrompendo a conversa, disse: você está surdo, eu lhe pedi maçã e você me deu uma laranja!
Ah! Sim. Tirei outra laranja do cesto que se achava à minha esquerda e lhe entreguei.
Ora, você está mesmo surdo, eu quero é maçã!
Pois bem, e dei-lhe outra laranja.
Como? Sou sua companheira de muitos anos e exijo uma explicação.
Pois sim, vou lhe explicar. Veja, não tenho maçãs, tenho apenas laranjas, como posso, portanto, lhe dar maçãs? Ninguém dá o que não tem.
Considere querida, que neste mundo de Deus, quantas pessoas mal têm laranjas podres ou mesmo azedas e você quer que elas lhe dêem maçãs? O que está faltando em nossos dias, não são de semeadores, mas sim, de sementes, aquilo que se há de semear. O que está faltando para resolver os problemas sociais, não é vontade, mas sim, idéias e que só surgirão com o pensar, mas lamentavelmente o homem de hoje não tem mais este valioso hábito, razão do acúmulo da violência que agora enfrentamos, portanto pense! Pense! Pense! Este é o caminho. Assim pensamos e assim havemos de entender...

domingo, 4 de fevereiro de 2001

Instrução e educação

Estamos iniciando o terceiro milênio da era cristã e não obstante falando a mesma língua, as interpretações têm sido confusas, vagas e ininteligíveis, portanto podemos afirmar que estamos vivendo uma nova Babel. Muitas palavras importantes estão sendo vulgarizadas, deturpadas, alteradas e por isso pouco representam, nada acrescentam, nada resolvem... A confusão mais deletéria que se faz é sobre a palavra educação. Embora todos reconheçam a sua grande importância, contudo o que pedem, reclamam e oferecem não passa de uma simples e modesta instrução, por isso nada resolve, nada soluciona e os problemas continuam. Para alcançar esta diferença basta entender que o homem é formado por três elementos: corpo, ego e consciência e o homem integral é aquele que seu corpo goza de boa saúde, tem o ego instruído e a consciência despertada, sendo, portanto, alegre e feliz. Precisamos, pois, distinguir claramente, educação de instrução, mostrando como são bem diferentes.
Em nosso dia-a-dia, encontramos várias informações com diversos graus de dificuldades para seu entendimento. Assim: o iodeto de potássio pode ser dosado por iodatometria usando clorofórmio como indicador, cujo produto final é o cloreto de iodo. A grande maioria não compreende claramente esta informação, somente os estudiosos da química, pois é necessário conhecimento básico, fundamental, exigindo vários pré-requisitos. Esta classe de informação, de natureza técnica, científica ou mesmo humanística pertence ao intelecto, ou seja, ao ego e constitui o objeto da instrução, que tem seu valor, porém não o suficiente para resolver os problemas sociais, mesmo porque, freqüentemente tem sido a causa de vários deles.
Outras informações como: entendemos hoje que, evitar a miséria e os crimes é mais importante do que praticar a caridade e a justiça, pois, justiça e caridade são apenas compensações. Esta é de fácil interpretação não exigindo pré-requisitos, sendo compreendida por todos, uma vez que já está impressa em nossa consciência, mas que se encontrava apenas encoberta ou mesmo adormecida pelo ego, e que neste instante, foi despertada. Considere o alcance deste pensamento e veja como redime. Esse despertar da consciência chama-se educar.
Educar é despertar a consciência adormecida pelo ego, através da meditação sobre pensamentos próprios, mister de educadores e não de técnicos ou profissionais, pois sua ação é na essência interna do homem e a consciência é o elemento que o conduz corretamente, sem equívoco, de maneira prazerosa e agradável, razão de sua eficácia, identificando e determinando aquilo que é certo e que devemos praticar, daquilo que é errado e que devemos evitar. Isto é ser ético.
A redenção do homem não vem da ciência, mas sim da consciência, portanto, eduque-se...

domingo, 14 de janeiro de 2001

Oh que saudades que tenho...

Eu me lembro, eu me lembro, era pequeno... a caderneta de poupança rendia 50% ao mês e a CPMF cobrava apenas, 0,25% sendo assim 200 vezes menor; os juros do cheque especial estavam próximos de 80%, portanto 1,6 vezes a poupança. Havia ainda naquele tempo, ofertas de empregos e as lojas estavam repletas de clientes embora com remarcações, mas os reajustes salariais compensavam razoavelmente bem; não havia mendicância, pois o desemprego era pequeno. De repente tudo mudou! De uma hora para outra, nossa moeda ficou ao par com o dólar. Seria real? Sim, era o Real. Mas como foi? Descobriram ouro em nosso subsolo? Aumentamos por ventura, o nosso parque industrial ou os nossos campos agrícolas? Não. E como se deu esse milagre?
Essa pergunta somente poderá ser respondida por um economista. Pois bem, sou economista, não por formação, mas por necessidade, como são quase todos os brasileiros e os economistas por necessidade sabem mais, então vejamos.
Hoje temos uma moeda praticamente estável, contudo os problemas aumentaram consideravelmente e por que? Porque agora a caderneta de poupança está rendendo apenas 0,6% ao mês (se isso pode ser chamado de rendimento) enquanto que a CPMF está em 0,3% e promete aumentar, correspondendo à sua metade; o cheque especial está próximo de 10% sendo mais de dezesseis vezes superior. Relacionando os valores verificamos que a CPMF aumentou em 10.000% (não me lembro de algo que teve um aumento semelhante) e o aumento do cheque especial fica acima de 1000%, e que no entender de um economista por necessidade, aí que está o caminho encontrado pelo atual governo para transferir o dinheiro do povo para os cofres públicos e banqueiros; sem dinheiro, não se compra, então não se produz, conseqüentemente, não tem empregos, mas sim violência e mais violência, é o que hoje abunda...
As atuais reportagens sobre as posses dos novos prefeitos mostram quantas prefeituras estão quebradas, se desfazendo, sucateadas; qual será a razão de tudo isso? O plano real, ou a corrupção? Provavelmente os dois, mesmo porque o Plano Real já é uma corrupção. Considerando, pois, que a história do homem é naturalmente evolutiva, mas por vezes também é cíclica e assim já em 1639, o padre Antônio Vieira, o maior orador sacro da língua portuguesa, disse em um dos seus sermões: “Muito deu em seu tempo Pernambuco; muito deu e dá hoje a Bahia, e nada se logra; porque o que se tira do Brasil, tira-se do Brasil; o Brasil o dá, Portugal (hoje, o FMI) o leva." Isto é exatamente o que está ocorrendo conosco, sem beneficio para o povo e sem nada luzir para o país, mas trazendo-nos somente incertezas e desilusões.
Toda essa tristeza e aflição me fazem lembrar do passado tranqüilo que tivemos, portanto... Oh que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha inflação querida que os anos não trazem mais...