sexta-feira, 10 de setembro de 1999

O ontem, o hoje, um ensaio para o futuro

Descia um homem de Jerusalém a Jericó...
Sim. Naquela época o mundo era pequeno e as modestas cidades, estavam interligadas por simples trilhas despovoadas, propícias as emboscadas e assaltos. Hoje o mundo cresceu. As cidades são populosas e as trilhas transformaram-se em estradas asfaltadas e com grandes congestionamentos. Em toda a sua superfície, encontramos pessoas, desde os pólos ao equador, das montanhas às planícies, mostrando a existência de uma grande explosão populacional.
As pequenas mulas de transportes foram trocadas por carros e aviões de último tipo. O homem inventou a luz elétrica, descobriu os segredos do átomo, já foi a Lua e voltou. Falar com o outro lado do mundo é tão simples quanto falar com o outro lado da rua. As ondas eletromagnéticas cortam os nossos céus, levando aos quatro cantos a nossa imagem, atestando que houve uma verdadeira explosão técnico-científica. Contudo, em face dos graves problemas que nos afligem, podemos afirmar que, apenas na área do pensamento humano, não houve evolução, estamos ainda ao lado daquele homem solitário que descia de Jerusalém a Jericó. E também, como após o Dilúvio, ainda hoje vivemos uma verdadeira Babel. Embora falando a mesma língua, as interpretações são vagas, ininteligíveis e confusas.
Os pensamentos do passado não satisfazem o presente; urge mudá-los. Entendemos hoje que, evitar a miséria e os crimes é mais importante do que praticar o bom samaritanismo, uma vez que a caridade e a justiça são apenas compensações.
As normas atualmente adotadas pela humanidade não resolvem os seus problemas, posto que têm a mesma origem: o ego - um cego não guia outro cego. O que necessitamos são de novas idéias, que sejam realmente redentoras e, portanto, devem nascer da consciência...
A grande dificuldade está na elaboração dessas idéias, uma vez que ninguém dá o que não tem, e assim, é necessário um grande esforço para a construção deste novo caminho, que consiste em abandonar, primeiramente a velha trilha de Jerusalém a Jericó e buscar novos horizontes; porém, o grande obstáculo está em tirar o céu das pessoas, esse desejo egoístico, mórbido, patológico e doentio de uma recompensa externa.
Enquanto o homem não compreender que as recompensas não lhe satisfazem, continuará em vão, buscando soluções, pois elas são como brinquedos que as crianças nos pedem incessantemente, mas quando ganham logo, logo, desprezam e querem outros... Ou então, como certas roupas que algumas pessoas procuram comprar com tanto sacrifício, e quando conseguem, logo, logo abandonam e já buscam outras num gesto oneroso e desgastante.
Pior ainda, acontece com os investidores que jogam seu dinheiro em aplicações, na busca de lucros e, quanto mais ganham mais querem ganhar... estando sempre, insatisfeitos e preocupados.
Ao lado desse desejo, surgem sempre, os crimes, o uso de drogas, os estupros e toda a sorte de violências e que são prevenidos apenas pela Educação.
Educar é despertar a consciência adormecida pelo ego através da meditação sobre pensamentos educacionais, mister de educadores e não de técnicos ou profissionais, pois sua ação é na essência interna do homem. A consciência é o elemento que nos orienta, mostrando-nos o que é correto praticar: isto é ser ético.
A recomendação "Não julgueis, para não serdes julgados", demonstra medo, falta de coragem, portanto não é educativa, pois não julgar com receio de ser julgado, é covardia, mas "não julgar, simplesmente, porque não é da nossa competência", isto é educação.
Isto é apenas um ensaio para o futuro.

Nenhum comentário: