sexta-feira, 10 de setembro de 1999

Avaliação escolar

Avaliação é o ato de atribuir valores. A avaliação escolar é o método usado para medir o aprendizado e dar continuidade ao processo. Mas, o que devemos medir? O aproveitamento dos alunos? A eficiência dos professores? A eficácia dos métodos escolares?
Muitas instituições procuram avaliar os professores através das provas aplicadas aos alunos. Ora, se medir é comparar uma grandeza com a unidade correspondente, jamais poderemos avaliar a qualidade do professor através do aproveitamento escolar do aluno, sem considerar ainda, que o aluno possa ser um autodidata ou um preguiçoso, e então, nem mesmo os recursos estatísticos ajustariam os casos.
Uma prova deve ser elaborada com critérios, porque questões mal formuladas, fatalmente levam a falsos resultados. Suas questões devem ser direcionadas, no sentido de perguntar “por que é...” e não “o que é...”, este é o segredo.
Considerando a evolução atual do estudo, é preferível avaliar a potencialidade do aluno, e não propriamente, o conteúdo programático, pois este é facilmente encontrado nos livros. Esse sistema não aceita decorar, estudar de véspera ou colar, e não está na dependência da memória, mas sim, do raciocínio, da inteligência e da habilidade do aluno, que são, muitas vezes, superiores ao conteúdo pois, o valor do profissional corresponde à capacidade de resolver problemas e não em reter de memória os conhecimentos. Este modo de avaliar não exige uma data previamente marcada, vez que não se prepara de véspera, raciocínio, inteligência ou habilidade, podendo, portanto ser realizada a qualquer momento e mais, o aluno não tem como colar.

Vocação e motivação, determinar o perfil do profissional, mercado de trabalho

A complexidade da vida humana é o resultado da desigualdade entre as pessoas. Essa desigualdade tão criticada por muitos é, entretanto, a característica mais importante do homem, sendo o agente responsável pela sua vida na sociedade, onde cada um concorre com o seu talento para satisfazer o todo. Este pensamento baseado na desigualdade humana leva-nos a crer que todos têm, contudo, o mesmo valor, posto que, somos complementares, e assim, é dever colaborar, não somente com o homem, mas com toda a Natureza, de forma efetiva, sem egoísmo. Ao compreender e aceitar esta ordem, transformamos o dever em querer, de modo a ser prazeroso servir.
Nas escolas, como nas universidades, devemos aceitar essa desigualdade e oferecer aos alunos condições para que cada um desenvolva na plenitude, o seu talento. Lamentavelmente, muitos dos dirigentes universitários, em atitudes mal pensadas, afirmam a necessidade de se “determinar o perfil do profissional que se quer formar”, na presunção de que esse planejamento seja fruto da inteligência, não hesitam em implantá-lo.
Além de violar o alvedrio de cada um, esta idéia traiçoeira engana os próprios propositores e adeptos. Pois, considerando que a duração, dos cursos universitários, é de quatro a seis anos aproximadamente, ocorre que devido às profundas e rápidas mudanças na sociedade, o perfil do futuro profissional, pode vir a ser diferente, na ocasião das necessidades sociais. Ao determinar o perfil do profissional, estamos subtraindo-lhe outras oportunidades, deixando-o então, refém, cativo, submisso e escravo da ambição alheia.
A preocupação de estudar o “mercado de trabalho”, no intuito de oferecer um programa direcionado, é tão prejudicial e impróprio como o primeiro e nada disso se faz necessário, pois basta oferecer aos jovens alunos, orientação plena e condições para que cada um desenvolva o próprio talento, atendendo, deste modo, os apelos de sua vocação. Essa atitude, além de solucionar os problemas, não escraviza, mas sim, liberta e redime.
A vocação, este chamamento interno, esta inclinação, se realiza com o desenvolvimento do talento, tornando-o então, o elemento preponderante do bom desempenho escolar, proporcionando a auto-realização da pessoa, enquanto que a motivação, que é a criação de motivos, não tem a mesma eficácia, uma vez que é formada por agentes externos e assim, quando alguém reclama motivação, é indício certo da falta de vocação.

Objetivo

Nas escolas é comum usar amiúde a palavra “Objetivo”, mas a generalização desse termo leva a interpretações equivocadas, causando conseqüentemente, grandes prejuízos, como exemplos: os objetivos da disciplina, que vamos estudar são:...; Os objetivos devem ser definidos usando verbos no infinitivo, tais como: conceituar, distinguir, definir, classificar e outros. Na verdade, o emprego desta palavra deve ser cuidadoso, posto que, quando definido, irá conseqüentemente, determinar a conduta do indivíduo. Assim, pergunta-se a um aluno do curso de Veterinária.
- Qual é o seu objetivo?
Se não todos, a maioria responde:
- Formar em Veterinária.
A experiência do dia-a-dia mostra que, se o aluno decorar as lições, estudar de véspera, ou mesmo, colar na provas, formará até mesmo antes, e então não hesitará em recorrer a essas práticas, posto que seu objetivo, já declarado, é mesmo, formar em Veterinária. Mas, formar em Veterinária será realmente o objetivo deste aluno? O verdadeiro objetivo deve ser claro em si, não comportando sequer dúvida ou indagações, visto não ter, nem por que, e nem para que. Assim, para verificar se o objetivo proposto é realmente verdadeiro, basta perguntar:
- Para que formar em Veterinária?
Uma das respostas mais prováveis seria:
- Para tratar dos animais domésticos.
Ora, então tratar dos animais domésticos, vindo após a formatura seria o objetivo. Mas, continuando...
- E tratar de animais domésticos, para que?
- Para produzir alimentos de origem animal: carne, leite, ovos e derivados.
- E para que produzir alimentos?
- Para alimentar o homem.
- E para que?
Após uma série de para quês, chegamos a uma resposta clara, que não aceita mais indagações:
-Para ser feliz.
Assim, este é o único e verdadeiro objetivo. As respostas anteriores são meras etapas ou caminhos. Então, aceito que ser feliz é o verdadeiro objetivo, retornando ao exemplo, perguntamos ao estudante de Veterinária:
- Decorar lições, estudar de véspera ou mesmo colar em provas, o leva à felicidade?
E ele, entendendo, logo dirá:
- Esse caminho não me conduz à felicidade.
E assim conclui que não se pode ter tal comportamento, e os professores não mais precisarão fiscalizar os alunos durante as provas. A simples interpretação correta da palavra objetivo, é então suficiente para mudar a conduta do aluno em seus estudos, na realização de provas, orienta-lo nas futuras práticas profissionais e no convívio social, fazendo-o abraçar alegremente as obrigações ditadas pela sua consciência, que constitui o verdadeiro caminho para a felicidade...

Ensinar a estudar

Na área escolar é freqüente o uso da expressão: ensinar a estudar. Supõe-se que isto seja o verdadeiro mister do professor, mas não é bem assim, uma vez que o aproveitamento escolar não é igual entre os alunos de uma mesma classe, embora o professor seja o mesmo.
O Padre Antônio Vieira, o maior orador sacro da Língua Portuguesa, no século XVII, no Sermão do Espírito Santo, pregado na cidade de São Luiz do Maranhão, assim escreveu: “O mestre na cadeira diz para todos, mas não ensina a todos. Diz para todos, porque todos ouvem; mas não ensina a todos porque uns aprendem, outros não. E qual a razão dessa diversidade, se o mestre é o mesmo e a doutrina a mesma? Porque, para aprender, não basta só ouvir por fora: é necessário entender por dentro. Se a luz de dentro é muita, aprende-se muito; se pouca, pouco; se nenhuma, nada. O mesmo nos acontece a nos. Dizemos, mas não ensinamos, porque dizemos por fora; só o Espírito Santo ensina, porque alumia por dentro...”
Adaptando-se ao caso, a inteligência, o raciocínio e a vontade são os elementos que nos ensinam, todos agentes abstratos e aparecem com diferentes graus em cada um de nós, daí a desigualdade da aprendizagem, além de deixar bem claro, a inexistência de materiais didáticos. O professor é fundamentalmente um orientador e estimulador do aluno. Os livros são normalmente fontes de informação, portanto, o aprendizado depende única e exclusivamente, do aprendiz. Do exposto, fica claro que o verbo ensinar é hipotético, presunçoso e maléfico. Hipotético, porque ninguém ensina a alguém; presunçoso, porque dá ao professor a sensação de ser importante; maléfico, porque deixa o aluno a espera de ser “ensinado”.
Aprender é abraçar, recolher, receber, encher. Assim, o limite da aprendizagem depende da capacidade intelectual de cada um, e não da magnitude da aula. É como se todos fôssemos à praia, levando cada um, um recipiente qualquer; embora o mar grandioso, imenso, rico, todavia uma coisa é certa: cada um só pode trazer a quantidade de água que corresponde à capacidade de seu recipiente. Cabe então ao professor, persuadir o aluno a levar um recipiente maior, para recolher maior quantidade de água; isto é, aumentar a sua capacidade intelectual, para aprender mais.
Dizem que não se faz um burro beber água, mas é viável porque basta dar a ele uma boa pedra de sal. Então senhores professores, quando forem dar aulas, não levem copos com água para seus alunos, mas, sim boas pedras de sal... A eficácia dessa persuasão depende do “engenho e arte” do professor. Bem aventurado é o professor que, de tão eficiente tomou-se supérfluo para seus alunos. Este se realizou... Este redimiu...
No passado, principalmente as aulas do curso primário consistiam na transcrição, na lousa, de pontos da matéria, pelo professor, e copiados pelos alunos, para posteriormente decorá-los. Esta prática era recomendável, não só pela falta de livros, mas também pelos poucos conhecimentos de que se dispunha a humanidade. Estudar seria assim, adquirir conhecimentos. Hoje, as condições mudaram bastante, pois a lista de conhecimentos é infinitamente grande e não somos capazes de absorver, sequer, um milésimo porcento, e que pouco representa. Considerando ainda, hoje temos uma abundância de livros, onde os mais variados autores abordam com riqueza, todos os assuntos, sem considerar a grande facilidade de consultas que nos oferece a Internet. Então, estudar, não mais corresponde, adquirir conhecimentos.
O organismo animal utiliza-se dos alimentos como fonte de substâncias para a formação da estrutura de seu corpo, através de uma série de reações químicas controladas pelas enzimas, constituindo o metabolismo biológico. Assim, estudar é metabolizar conhecimentos, realizados pela inteligência e raciocínio, e consiste mais em pensar do que propriamente ler, podendo ser realizado em qualquer lugar, deixando-se levar até por uma certa dose de intuição.
“Toda vez que me preocupo em resolver um problema, não consigo. Deixo de preocupar, então me vem a solução”. Einstein tinha razão! Pois na imensa maioria dos casos, estuda e pesquisa, não para a humanidade, mas para satisfazer o ego, este traidor que nos faz complicar as respostas para nos dar a impressão de se tratar de um problema difícil, que somente nós pesquisadores, temos condições, trazendo-nos assim, uma sensação de geniais, acariciando então o nosso ego.
Os grandes beneméritos da humanidade eram simples e modestos, porque eram de grande riqueza interna.
Estamos mesmo, ensinando a estudar?

Conhecer e saber

Na vida diária, é comum empregar como sinônimos conhecer e saber. Em conversa descompromissada, este equívoco não causa maiores danos, mas, em assunto sério, não podemos usá-los como sinônimos. A diferença é muito grande e os resultados são danosos. Conhecer (Lat. Cognoscere) é correlacionar os seres. Assim, o botânico compara a morfologia de uma planta com a de outra, e desta correlação elabora uma classificação tornando a planta assim conhecida. O mesmo se dá instintivamente, conosco em relação aos objetos tornando-os conhecidos.
Muitas vezes, o conhecimento não está relacionado com os sentidos, por exemplo. Em 1869, Mendelejeff não somente previu a existência, como também antecipou as propriedades físicas e químicas, de um elemento até então não descoberto apenas estabelecendo uma correlação com as propriedades dos elementos vizinhos, na tabela de classificação. Suas previsões foram comprovadas quando se descobriu o elemento Germânio. Deste modo, o conhecimento tem origem nas classificações, como: botânica, zoológica, dos elementos químicos, e muitas outras, até mesmo as arbitrárias... As classificações sem caráter científico nos levam a conhecimentos pré-científicos, é o que ocorre quando as pessoas não encontram pensamentos e palavras próprias para expressar o fato, ou o objeto, que se refere, pois, tem-se apenas uma sensação, mas não uma clareza, por isso não se pode afirmar.
Assim, por não conhecer bem o significado de ofensa, dizem que o homem ofende a Deus. Pois bem, considerando que a ofensa é uma agressão ao ego e que Deus não é egoísta, jamais poderá ser ofendido. Este exemplo nos mostra a grande importância que tem o conhecimento, e tanto professores quanto livros, podem transmiti-los.
Para saber o que é ofensa é necessário ser ofendido, porque saber é saborear, é viver. Nas escolas os professores propõem exercícios como oportunidades para ser vividos pelos alunos, por isso não podem ser copiados de colegas ou mesmo de livros.
O saber, esta vivência, é que qualifica o profissional. Saber resolver problemas, interpretar conhecimentos.
O grande mestre que nos conduz ao saber é o tempo, é a vida.

O ontem, o hoje, um ensaio para o futuro

Descia um homem de Jerusalém a Jericó...
Sim. Naquela época o mundo era pequeno e as modestas cidades, estavam interligadas por simples trilhas despovoadas, propícias as emboscadas e assaltos. Hoje o mundo cresceu. As cidades são populosas e as trilhas transformaram-se em estradas asfaltadas e com grandes congestionamentos. Em toda a sua superfície, encontramos pessoas, desde os pólos ao equador, das montanhas às planícies, mostrando a existência de uma grande explosão populacional.
As pequenas mulas de transportes foram trocadas por carros e aviões de último tipo. O homem inventou a luz elétrica, descobriu os segredos do átomo, já foi a Lua e voltou. Falar com o outro lado do mundo é tão simples quanto falar com o outro lado da rua. As ondas eletromagnéticas cortam os nossos céus, levando aos quatro cantos a nossa imagem, atestando que houve uma verdadeira explosão técnico-científica. Contudo, em face dos graves problemas que nos afligem, podemos afirmar que, apenas na área do pensamento humano, não houve evolução, estamos ainda ao lado daquele homem solitário que descia de Jerusalém a Jericó. E também, como após o Dilúvio, ainda hoje vivemos uma verdadeira Babel. Embora falando a mesma língua, as interpretações são vagas, ininteligíveis e confusas.
Os pensamentos do passado não satisfazem o presente; urge mudá-los. Entendemos hoje que, evitar a miséria e os crimes é mais importante do que praticar o bom samaritanismo, uma vez que a caridade e a justiça são apenas compensações.
As normas atualmente adotadas pela humanidade não resolvem os seus problemas, posto que têm a mesma origem: o ego - um cego não guia outro cego. O que necessitamos são de novas idéias, que sejam realmente redentoras e, portanto, devem nascer da consciência...
A grande dificuldade está na elaboração dessas idéias, uma vez que ninguém dá o que não tem, e assim, é necessário um grande esforço para a construção deste novo caminho, que consiste em abandonar, primeiramente a velha trilha de Jerusalém a Jericó e buscar novos horizontes; porém, o grande obstáculo está em tirar o céu das pessoas, esse desejo egoístico, mórbido, patológico e doentio de uma recompensa externa.
Enquanto o homem não compreender que as recompensas não lhe satisfazem, continuará em vão, buscando soluções, pois elas são como brinquedos que as crianças nos pedem incessantemente, mas quando ganham logo, logo, desprezam e querem outros... Ou então, como certas roupas que algumas pessoas procuram comprar com tanto sacrifício, e quando conseguem, logo, logo abandonam e já buscam outras num gesto oneroso e desgastante.
Pior ainda, acontece com os investidores que jogam seu dinheiro em aplicações, na busca de lucros e, quanto mais ganham mais querem ganhar... estando sempre, insatisfeitos e preocupados.
Ao lado desse desejo, surgem sempre, os crimes, o uso de drogas, os estupros e toda a sorte de violências e que são prevenidos apenas pela Educação.
Educar é despertar a consciência adormecida pelo ego através da meditação sobre pensamentos educacionais, mister de educadores e não de técnicos ou profissionais, pois sua ação é na essência interna do homem. A consciência é o elemento que nos orienta, mostrando-nos o que é correto praticar: isto é ser ético.
A recomendação "Não julgueis, para não serdes julgados", demonstra medo, falta de coragem, portanto não é educativa, pois não julgar com receio de ser julgado, é covardia, mas "não julgar, simplesmente, porque não é da nossa competência", isto é educação.
Isto é apenas um ensaio para o futuro.