domingo, 31 de dezembro de 2000

Beber água

Eu me lembro e com saudade de minha meninice, pois fui um menino alegre e ingênuo que gostava de brincar com os bezerros e outros animais da fazenda onde nasci. Passava horas olhando as nuvens procurando identificar nelas, figuras de animais ou mesmo de países conhecidos. A imensidão do céu despertava em mim o desejo de liberdade. Entretanto percebia que esta estava longe, pois pairava em mim, as determinações paternas de que isto ou aquilo só poderiam ser feitas pelos grandes; imaginava que ser menino era um impedimento aos meus desejos, mas como me livrar? Somente o tempo poderia me libertar, mas vai demorar muito... Então pensando, percebi que poderia ser grande se fizesse o que fazem os grandes.
Olhando, vi um cavaleiro solitário em uma estrada distante, lá na linha do horizonte e julguei que se cavalgasse sozinho seria grande, pois até então só o fazia ao lado de meu pai, foi quando me lembrei do burrinho de lida que ficava junto à porteira do curral. Resoluto apanhei o cabresto e colocando nele, de um salto o montei e saí cavalgando pela estrada afora. Logo chegamos ao espraiado, ponto em que o córrego corta a estrada e esparrama suas águas, bebedouro natural para os animais e parei. Bebe, bebe. Ora, por que não? Se não beber, não serei grande. Apeando, peguei em suas orelhas e puxava para baixo dizendo: bebe, bebe... Neste momento, meu pai vindo da invernada, suspendendo as rédeas pelo pulso e enrolando um cigarro de palha, ao ver-me disse: o que está fazendo meu filho? Quero fazer o burro beber água. E ele, meneando de leve a cabeça e com um sorriso respondeu-me: ora não se faz um burro beber água e afastou-se.
Confesso que nada entendi, percebi que era apenas um desista... Desiludido montei e voltado para casa abandonei a idéia; contudo aquela expressão ficou zoando em minha mente durante anos e anos sem nada entender, até o dia em que dei a minha primeira aula. Neste momento pude compreender com clareza, o significado daquela expressão, onde cada um faz somente o que quer e quando quiser.
Entretanto, hoje mais maduro e experiente, entendo que podemos fazer um burro beber água e não é muito difícil, pois basta dar a ele uma boa pedra de sal que logo, logo estará bebendo água... Portanto caros professores, quando forem dar aulas não levem copos d'água para seus alunos, mas sim, boas pedras de sal. O êxito desta prática depende da habilidade e arte de cada professor e o sal a que me refiro, corresponde à conscientização de seus alunos, sendo esta o ponto alto de uma aula e que constitui o grande mister do professor.
Assim pensamos e assim desejamos que seja, neste último dia do século e que amanhã ingressados no terceiro milênio, conquistaremos certamente, a nossa redenção...
Uberlândia, o último dia do século XX.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2000

Vocação de professor

Comentando certa vez, em uma aula com os alunos do curso de medicina, dizia de minha grande preocupação com o baixo aproveitamento escolar e que das várias razões, a principal é a pouca vocação de muitos estudantes. Na esperança de justificar a minha tese, perguntei a uma aluna o que a levou a escolher a carreira médica. Ela, depois de muito pensar, declarou: eu gosto de tratar de doentes. Esta resposta dita sem convicção, arrancou risos dos colegas. Estes sorrisos são provas de que tenho razão e todos afirmaram que sim, mas quando já me considerava vencedor e me dirigia para a mesa, foi surpreendido com a pergunta: e o senhor, por que resolveu ser professor? Confesso que esta observação me deixou embaraçado. Como responder? Procurando ganhar tempo e como que surpreso, disse-lhes: ainda não lhes contei? Não? Não acredito! Não pode ser! Com estas indagações e exclamações espaçadas, fui ganhando o tempo necessário para imaginar uma história capaz de explicar o motivo e logo me veio à mente uma e então, me colocando no meio do corredor, pude assim começar.
Olhem os meus sapatos. Não são sapatos, mas sim botinas de elástico e já desgastadas. Olhem a minha calça de linho. Não. Não é de linho, mas sim de brim e toda esfiapada, com sementes de amor seco, carrapichos e até esterco de curral, pois embora procurando despistar, jamais consigo encobrir a minha origem: nasci e me criei na fazenda.
Estava eu certo dia, repregando algumas tábuas soltas do curral quando se achava ali um (outro) burro. Em dado momento, ouvi um barulho estranho, era o burro que estava escoiceando a cerca. Procurando interpretar o gesto do animal, pensei: ah! Com certeza ele espera que seus coices possam abrir a porteira, mas é burro esse burro, pois a porteira e mais para a direita e logo voltei-me ao trabalho. Ouvi novamente o barulho e pude perceber que os seus pés ora passavam entre as tábuas e ali raspando, se machucavam. Preocupado, olhei ao redor e encontrei um pequeno pedaço de canzil e o atirei de leve para espantá-lo. Afastando, passou ao meu lado quando notei que seus pés estavam feridos. Embora trabalhando, minha mente preocupava com o procedimento do burro e assim pensava: a burrice agride, pois eu já me agastava com a atitude do burro; a ignorância fere, posto que, já sangrava o pé do burro e entre esses pensamentos, de repente me veio um estalo: hei de ser professor! Laguei o martelo e aqui estou.
Este foi o motivo que me trouxe ao magistério, certo ou errado, mas foi assim e ainda hoje percebo como valeu a pena e não me arrependo, pois fui imensamente gratificado, e no qual, me realizei plenamente.
Então, obrigado companheiro burro! Obrigado por ter despertado em mim esta magnífica vocação!

sábado, 11 de novembro de 2000

Palestra aos professores

Senhores.

O que estamos assistindo neste morrer de milênio, é simplesmente estarrecedor. O homem não suporta mais as pressões que ele mesmo criou. As notícias divulgadas pela imprensa mostram que estamos atravessando um mar de violências criadas por um dilúvio de confusões repetindo com horrores uma nova Babel. Precisamos urgentemente buscar as soluções, porém a grande dificuldade consiste em renunciar as trilhas antigas do nosso passado para encontrar o verdadeiro caminho, pois devemos volver o nosso pensamento para o futuro alvissareiro do terceiro milênio que está preste a raiar.
Considerando que o pensamento é o agente primário de nossas ações. Entendemos então que o pensar corresponde ao primeiro passo desta arrancada para a grande corrida em busca de nossa redenção, entretanto como o homem de hoje não têm o hábito de pensar, suas ações são por isso desconexas e sem eficácia e busca justificar declarando que os novos caminhos não passam de uma verdadeira utopia.
Recente reportagem sobre o uso de drogas mostra o grande despreparo da sociedade para resolver este problema. Pais se justificam acusando os professores de não orientar seus alunos, enquanto que os professores se desculpam dizendo que os pais não educam seus filhos. Essas acusações mútuas refletem a incompetência destes na orientação dos nossos jovens sendo esta a origem da sociedade desorientada que somos.
No passado, quando a população mundial era pequena, havia espaço para todos. Contávamos também com uma tecnologia simples, portanto não tinha uma grande variedade de produtos de consumo que tanto atraem as pessoas por isso a vida era calma sem concorrências e o velho modo de pensar foi então suficiente para resolver os poucos problemas da sociedade; hoje, porém, a população mundial explodiu a casa dos seis bilhões de habitantes reduzindo deste modo o espaço vital de cada um e assim nas grandes cidades, as pessoas se acotovelam nervosamente a ponto de explodirem.
A ciência e a tecnologia desenvolveram assustadoramente. Descobrimos os segredos do átomo, já fomos à Lua e dela regressamos, inventamos a luz elétrica, desvendamos o código genético, entramos na era da informática e outras descobertas mais, entretanto, na área do pensamento humano estamos como antes e esta é a razão da vertiginosa escalada da violência. Os conceitos vagos vindos do passado, não são suficientes para resolver os problemas do presente, pois é necessário estabelecer com precisão os significados das palavras e conseqüentemente das idéias. Não basta a sensação, é necessária a exatidão. Para explicar esta exigência, é bom entender, que jamais alguém pode executar bem uma tarefa, sem o conhecimento pleno do assunto.
Um dos exemplos mais importante e de fácil compreensão é sobre o sentido da palavra ofensa. Constantemente estamos ouvindo e dizendo que ofendemos e que fomos ofendidos, mas não somos capazes de conceituar com precisão o que seja ofensa, temos apenas a sensação de algo ruim, contrário ao elogio. Porém, conhecendo com precisão seu conceito, mudaremos certamente o nosso modo agir. Para esclarecer, respondam mentalmente: quem comete o maior equívoco, o ofensor ou o ofendido? Para responder com certeza esta pergunta, é necessário conhecer com exatidão o significado de ofensa. Qual será a resposta? Por que? Outra palavra freqüentemente usada e até mesmo recomendada como sendo o único caminho para solucionar os conflitos, é o amor, ou mesmo o amar. Mas o que é amar? O que é amor? Ora, se estamos com dificuldades para definir ou conceituar o que é amar, que dirá então da dificuldade de amar? Qual será ainda a qualidade do nosso amor? Na área escolar encontramos muitos outros exemplos, tais como: estudar, conhecer, saber, aprender e principalmente uma palavra usada por todos, sem um mínimo cuidado, dita por qualquer um e ainda com a presunção de ser um grande administrador, ou comentarista, ou diretor, ou professor, ou pai, ou um outro qualquer, refiro-me à palavra educação.
É triste, muito triste ouvir as pessoas dizendo coisas que nem sequer têm conhecimento, ainda que seja mesmo um conhecimento superficial, pré cientifico, pois os cotovelos não foram feitos para falar, mas sim, para doer. Este é o comportamento atual das pessoas mesmo das que têm o mister de nos governar. Por isso nada luz, nada resolve, porque para propor uma solução é necessário o conhecimento pleno do assunto. Considerando a violência, a corrupção, o uso de drogas e outros, antes devemos conceituar, determinar as causas e por último propor as soluções. Então: que é violência? Qual a origem da corrupção? Por que muitos usam drogas? Procedendo de modo semelhante, entendemos que o verdadeiro e único caminho para combater os males que nos afligem é a educação.
Educar é eduzir, isto é extrair o que de bom há no homem pelo próprio homem através de meditação sobre princípios educacionais trazidos por educadores e não técnicos ou profissionais, pois sua ação é na essência interna do homem: a consciência. Entretanto, lamentavelmente muitas pessoas não compreendendo o que seja a consciência erradamente não acreditam e inclusive confundem educação com instrução.
Concluindo: a consciência é o único agente eficaz que nos conduz corretamente sem a necessidade de guarda ou vigia, pois não seremos capazes de transgredir e não podemos dizer reeducar, posto que se foi educado não comete delitos, se não foi, não se reeduca. O homem consciente não tem medo, receio e temor, não é covarde, mas sim feliz.
Assim chegamos á conclusão de que a educação é o único e verdadeiro caminho para solucionar os problemas que afligem a humanidade. Mostrarei agora um exemplo vivo, experimentado por todos nós, respondendo a pergunta inicialmente formulada. Comecemos então pelo conceito: Ofensa é uma agressão ao ego alheio e por isso nos aborrece; elogio é urna carícia, portanto nos agrada. Ora, então para ser menos ofendido, basta ser menos egoísta, pois reduzindo ego, reduz conseqüentemente os aborrecimentos e logo quem comete o maior equívoco é o ofendido. Felizmente é deste modo, pois o nosso bem estar há de estar em nossas mãos e não nas alheias. Seguindo esse raciocínio, concluímos facilmente, que se Deus não é egoísta, jamais poderá ser ofendido e mudamos assim, todo o nosso modo de pensar, apenas por ter conceituado claramente a palavra ofensa. O grande problema do homem não consiste em resolver o dilema: perdoar ou vingar, mas sim, em não se ofender.
Que essa mudança de milênio seja o prenúncio de mudanças em nosso comportamento.

sábado, 19 de agosto de 2000

Foi um sonho

Estamos terminando o século vinte. Não obstante às grandes descobertas científicas, somadas à imensa explosão demográfica, ainda conservamos, entretanto, as tradições religiosas, vindas desde a nossa mais tenra idade. Na esperança de receber a proteção divina, aprendemos homenagear a Deus, atribuindo-Lhe várias qualidades e cada um, segundo suas idéias, declara seus atributos: Deus é bom, misericordioso, justíssimo, fiel, poderosíssimo e muito mais...
Ouvi certa vez, um pregador explicar os diversos atributos divinos, procurando provar com fatos que Deus é poderoso, bondoso, misericordioso e muito, muito mais... Todos ouvíamos atentamente esta pregação de mãos postas, de cabeças baixas e humildemente reconhecíamos a insignificância do homem perante Deus. A grandeza divina era terrivelmente ouvida pelos maus, mas trazia grandes esperanças de redenção para os bons e este é o entendimento que temos de Deus. O pregador deixou o recinto satisfeito por nos ter ensinado e nós com humildade, nos recolhemos para a grande meditação.
Então, naquela noite, pela madrugada, tive um sonho que me levou aos tempos passados quando eu morava na fazenda onde nasci.
“Estava eu cavalgando pelo pasto e me dirigia para a sombra de uma bela e frondosa árvore de batalha na esperança de me proteger do sol causticante. Ao aproximar-me percebi a presença de várias vacas que ali se achavam deitadas à sombra fresca da árvore. De repente ouvi um som esquisito. Espantado, percebi que eram as vacas conversando e atônito, pus-me a ouvi-las.
Então uma delas dizia: O nosso amo é extremamente bom, pois foi ele quem nos deu esta pastagem tão deliciosa.
Outra, com humildade, afirmava que o seu senhor é um grande ruminante; já a seguinte, garantia que o seu patrão é um verdadeiro quadrúpede e um autêntico irracional.
A próxima assegurava que a cauda do seu dono é imensa, cujos cabelos longos e cacheados reluzem aos raios solares.
Por fim, a última declarava que o seu senhor tem os chifres não somente grandes, mas ainda, harmoniosamente enrolados... Neste momento não me contive e empunhando o chicote dei-lhes boas chicotadas fazendo todas correrem em disparada pela ladeira abaixo. Voltei para casa aborrecido com o que elas pensavam de mim, pois eu sou humano e não um vacum.”
Assustado, então acordei. Analisando o sonho, percebi como as vacas estavam enganadas a meu respeito; embora todas parecessem humildes e satisfeitas esperando que estas declarações me agradassem, contudo me aborreci, pois eu sou um ser humano e não uma vaca ou mesmo uma super vaca.
Os pensamentos vagavam pela minha mente, quando me lembrei de que naquela mesma noite eu ouvia compungido o pregador dizendo coisas semelhantes com relação a Deus. Assim também, queremos nós atribuir a Deus, as nossas qualidades, imaginando que Deus é semelhante a um super homem, na mais autêntica heresia. A origem deste equívoco é primária, pois pretendemos infantilmente, colocar em nossa cabeça finita, um Deus infinito, como propõem os teólogos, pois embora, etimologicamente a palavra teologia seja viável, na prática é impossível, posto que é impossível, humanamente impossível, imaginar ou conhecer Deus.
Tudo isso foi um sonho, mas que constitui a mais pura realidade.

domingo, 23 de julho de 2000

A porta do céu é ampla, larga e espaçosa

O agente primário dos atos humanos é o pensamento, que após analisado pela luz do conhecimento, chega-se à conclusão do que deve ser realizado e então depois de convicto, toma-se a decisão, cujo êxito depende ainda do modus faciendi. Desde criança que assim procedemos e não medimos esforços, não avaliamos as dificuldades e nem contamos os aborrecimentos. Marchamos resolutos em busca do almejado. Os exemplos desta conduta são vários.
No passado, quando adolescentes, entendíamos que era sumamente importante saber andar de bicicleta. O aprendizado foi longo, sem professor. Tivemos que aprender sozinhos e com muitas dificuldades, várias foram as quedas, muitas escoriações, mas em nenhuma ocasião ficamos aborrecidos, pois estávamos como que anestesiados pela convicção de que era necessário, importante, maravilhoso saber andar de bicicleta. Então vencemos!
Outro exemplo, que lamentavelmente ocorre entre os jovens adolescentes, pelos seus despreparos, é o desejo de fumar que representa para eles uma auto-afirmação, algo muito importante para compensar a vacuidade interna, e assim convictos, começam a fumar, embora passando por todos os problemas, incômodos e dificuldades causados pelo fumo, como calafrios, tonteiras, sudoreses, enjôos e outros, sem contar as repreensões feitas pelos pais. Assim convictos, vencem a própria natureza e se tornam dependentes do fumo. Com tudo e com tristeza, verificamos que depois de adultos, não têm a convicção para abandonar o vício, embora seja muitas vezes mais fácil deixar de fumar do que aprender, uma vez que deixar, significa voltar ao natural. Assim se comportam as pessoas e assim mostramos resumidamente a força da convicção.
Compreendendo então, o seu grande valor, concluímos que a porta do céu é ampla, larga e espaçosa, até mesmo fácil e agradável e não, estreita, apertada, difícil, sacrificial, como dizem, pois o que faz a porta do céu parecer estreita não é senão, a larga ignorância que furta a convicção das pessoas, posto que, esta porta consiste no cumprimento espontâneo, livre, radiante, prazeroso e alegre das obrigações, nascidas da consciência, que constitui a nossa felicidade correspondendo ao nosso verdadeiro céu. Assim também concluímos, que podemos então, comer o pão com um sorriso nos lábios e não com o suor do rosto, como se afirmou no passado.
Uberlândia, 23 de julho de 2000.

sexta-feira, 30 de junho de 2000

As sementes transgênicas do terceiro milênio

A empírica e primitiva agricultura do passado resumia em limpar grosseiramente o solo e jogar a esmo algumas sementes e assim se fez durante muitos e muitos séculos. Na idade média, a agricultura desenvolveu um pouco mais, pois já se escolhiam as áreas para serem os campos agrícolas. Com o crescimento populacional, houve a necessidade de aprimorar os métodos aplicados na agricultura e para obter maior produção, verificou a importância de empregar terras férteis, principalmente as das margens dos rios e córregos. Mas estas eram também propícias para o desenvolvimento de plantas invasoras, conhecidas antigamente por joio e hoje por pragas, exigindo um trabalho a mais, que era o de capinar. Com o uso intensivo, estas terras foram enfraquecendo, diminuindo a produção e exigindo a adição de corretivos e adubos.
As modificações profundas, que sofreram essas áreas, alteraram consideravelmente o equilíbrio ecológico surgindo diversos agressores, tais como insetos, lagartas, várias doenças e a presença de plantas invasoras, todas de difícil combate. A solução foi empregar inseticidas e herbicidas, conhecidos por agrotóxicos, tão prejudiciais, comprometendo cada vez mais, o sistema ecológico. Durante este período, o homem procurou apenas melhorar as condições ambientais, sem se preocupar com a qualidade das sementes.
Atualmente com o desenvolvimento da genética, já se preparam sementes cujas plantas são mais resistentes às pragas e mais produtivas, de modo a baixar o custo operacional. Hoje, temos as sementes transgênicas, capazes de produzir tais plantas. Esta etapa é realmente a mais importante de todas posto que, atuando na própria semente, dá a ela as condições para vencer sozinha. Esta é resumidamente, a história da agricultura.
A história do homem é semelhante, pois no passado vivia apenas de frutas e um pouco da caça. Após séculos, iniciou seus primeiros passos na agricultura. Desde os primórdios, procura dominar o meio ambiente na suposição de que esse domínio representa o ponto alto de suas realizações. O domínio externo do homem foi verdadeiramente espetacular. Dominou os ares, dominou os mares, dominou a terra, dominou o átomo... Esqueceu apenas, de dominar a si mesmo!
O semeador do passado semeava sementes convencionais que nasciam e frutificavam apenas em terras férteis, mas não nas estradas, mas não entre os espinhos, mas não nos pedregulhos, porque eram sementes dependentes do meio ambiente, em um processo espoliador e desgastante, exigindo sempre, novas quantidades de fertilizantes.
As sementes transgênicas do homem do terceiro milênio haverão de nascer e frutificar, não somente nos corações bondosos, mas também, nos corações de pedra, nos corações de espinhos e ainda nos corações irrequietos das estradas em seus vai-e-vens, porque as sementes transgênicas da consciência, não dependem do meio ambiente, mas têm poder sobre ele, posto que elas possuem a capacidade de fertilizar o solo e abrandar os corações. O homem do terceiro milênio então, será forte, será brando, será alegre e principalmente educado, portanto feliz, porque haverá de nascer das sementes transgênicas de sua consciência.
Assim acreditamos e esperamos...

sexta-feira, 23 de junho de 2000

Educar para se libertar

Senhores.

A humanidade estará em breve, ingressando no terceiro milênio. A grandiosidade desta data é realmente inusitada. Esperamos que todos nós possamos assistir esta passagem, que marcará, não somente a mudança de milênio, mas principalmente, a profunda mudança no comportamento do homem, pois o que assistimos, nesse final, é simplesmente horripilante, triste, estarrecedor...
Percebemos, a necessidade urgente, de mudanças, uma vez que os problemas que se apresentam, são de profunda gravidade, colocando em risco, não apenas o homem, mas toda a natureza. A preocupação de todos nós é encontrar um caminho, que seja capaz de conduzir o homem a paz e a tranqüilidade, e este é o motivo de nossa reunião.
Não apenas nós, mas muitos outros, estão preocupados com a violência, e para resolver tais problemas, reunimos, estudamos e fazemos campanhas, tomando sempre uma providência qualquer. Hoje, esperamos que desta reunião surja alguma proposta importante. Serão abordadas questões fundamentais e procuraremos identificar alguns obstáculos. Precisamos, entretanto de muita paciência, carinho e amor para orientar o nosso povo. Compreender que nos falta orientação, pois ninguém dá o que não tem, esta é a razão, e hoje temos uma sociedade desorientada, procurando, ardentemente encontrar o caminho. Desse desejo, nasce a idéia de ser práticos, aguardando resultados imediatos e por isso estamos sendo iludidos, uma vez que os resultados não são assim, tão imediatos. (1)
O governo federal lançou nesta semana, um pacote de medidas para acabar com a violência. Os pontos principais, noticiados pela imprensa, correspondem ao aumento do contingente militar, revisão das penas e alguns outros. Pois bem. Pergunto aos presentes. Considerando que o crime é praticado pelos homens e que a polícia é composta de homens, surge a dúvida. Será que pelo simples fato de usar farda, torna-se incólumes? Se assim for, será fácil: basta colocar farda no povo. Por outro lado, imagina-se que a solução proposta consiste em combater a violência com outra maior. Estamos no caminho correto?
Comentaristas de telejornais defendem com veemência o aumento das penas, declarando a necessidade de aumentar a punição. Será que a punição traz a eficácia para combater a violência? Ensina-se que a maior punição é o inferno, mas logo declaram que o homem continua pecando, mostrando que nem mesmo esta pena tem eficácia no combate ao pecado. Essas medidas, se implantadas efetivamente, trarão grandes prejuízos para a sociedade. Um deles corresponde ao sofrimento imposto aos réus, cuja idéia principal é vingar e não corrigir. Um outro, provavelmente maior, que pela esperança da eficácia, não buscam a verdadeira solução, perpetuando deste modo, o problema, e até quando?(2)
Percebe-se pelas medidas adotadas, que o assunto sobre violência, nem foi devidamente estudado, fizeram apenas, uma análise superficial. Lamentável... (3)
A maioria das pessoas, não acredita na força da consciência. Declaram que muitas delas, pelos crimes que cometem, não têm consciência. Entretanto, isto não é verdade, pois a consciência é o agente mais eficaz na mudança de conduta do homem. Esta verdade pode ser demonstrada facilmente.
Existe uma recomendação que está escrita no grande livro sagrado, a Bíblia: “não julgueis para não serdes julgados”, que é do conhecimento de todos, e da qual ninguém duvida, todos acreditam. Contudo, algumas pessoas, entendem que esta recomendação insinua uma ligeira negociação onde, eu não julgo e você também não me julga, e tudo bem, e ainda, induz ao medo, temor, receio e até a covardia, e então não é educativa. E como deveria ser? Natural. Não julgar, simplesmente por não ser da nossa competência. Isto sim é educativo.
Quem discorda desta interpretação? Compreenderam a minha idéia? Fácil, não? Por que compreenderam com facilidade a minha idéia? Simples, por que essa idéia não é minha, mas sim, nossa. Ela já estava impressa na consciência de todos, mas, encoberta por uma camada de ego, estava adormecida pelo ego. O que fiz, não foi senão, limpar esta consciência, não foi se não, acordar esta consciência que dormia, embalada pelo ego. Isto sim é educar.
O homem é composto por três elementos: corpo, ego e consciência. Quando prevalece a consciência, o homem se diz educado, quando prevalece o ego, se diz egoísta. O homem integral é aquele que seu corpo goza de boa saúde, tem o ego instruído e a consciência despertada. Este homem é feliz...
A maior das violências que se tem hoje em dia, é o uso de drogas. Quantos jovens não morreram de overdoses? Quantas pessoas não foram vítimas fatais de drogados? Nota-se assim que o uso de drogas corresponde a uma das maiores formas de violência. O difícil é saber por que os jovens usam drogas. Será simplesmente a curiosidade? Por que não têm eles a curiosidade de beber leite de égua? Porque existe uma curiosidade dirigida, e o direcionamento desta curiosidade é então a verdadeira razão do uso de drogas.
O usuário de droga é um infeliz que não teve tempo de se preparar, portanto busca na droga a justificativa de seu despreparo. Por que não devo usar drogas? As justificativas que trazem para esta pergunta, não são verdadeiras, pois dizer que elas são prejudiciais à saúde, mas, não oferecer ao povo condições de trabalho, alimentação, assistência médica, não passa de uma justificativa hipócrita, desconexa, sem credibilidade e sem efeito.
Dizer que os traficantes são inescrupulosos e que em busca de lucros, expõe em risco a saúde dos jovens, enquanto nossas autoridades, estão sempre em guerra, procurando recolher em seus municípios o ICMS da Souza Cruz? Pois bem, o que é ICMS, se não, lucro. O que é a Souza Cruz, se não, droga? Pois qual a diferença destas autoridades com os traficantes? Pensem. Pensem mais. Sim, uma só. Estas são legalizadas, no mais tudo igual.
Precisamos, pois, esclarecer corretamente aos jovens, as verdadeiras razões porque não devem usar drogas. (4,5)
A sociedade infelizmente está passando por graves momentos. O desentendimento entre as pessoas, lamentavelmente é muito grande. Parece até, que estamos vivendo uma nova Babel. A comunicação entre os homens é obscura, as pessoas falam sem um entendimento correto das palavras. Existe apenas uma sensação, mas não uma clareza, uma certeza. Os cotovelos não foram feitos para falar, mas sim, para doer!
Muitos fatos desagradáveis têm ocorrido exatamente por desconhecerem o verdadeiro significado das palavras. Um exemplo claro, e que aconteceu há poucos dias, envolvendo pessoas importantes com o governador de São Paulo, Mário Covas e professores da rede estadual, que culminou com agressão física ao governador e a prisão de alguns professores. As razões declaradas pelo governador mostram com clareza, um grande equívoco. Disse ele: "Eu como representante do povo, tenho o direito de entrar no prédio da Secretaria de Educação, pela porta da frente”.
Realmente, o senhor governador tem o direito. Mas, o que significa esse direito? A palavra direito tem vários significados, como oposto ao esquerdo, nome de um curso superior, permissão e ainda o uso de condições vitais de um ser, pois, pressupõe-se a uma obrigação, portanto não é gratuito.
O direito evocado pelo senhor Governador, não passa, senão, de uma simples permissão a qual lhe é facultativa, enquanto que a prudência que o cargo lhe exige, é uma obrigação, portanto o senhor governador cometeu um terrível engano e que resultou na prisão de alguns professores. Isto é lamentável, pois há uma hierarquia entre o dever e o direito.(6)
Muitas outras palavras que ouvimos e dizemos no nosso dia-a-dia, embora de conteúdos importantes, delas temos apenas sensações, mas nunca um conhecimento pleno por isso nada resolve, além de nos conduzir a grandes equívocos.
É comum as pessoas dizerem que foram ofendidas. O homem ofende a Deus? De quem é a culpa das ofensas? O que é ofensa? Parece que todos já responderam essas perguntas. Acertaram?
Quando alguém diz a um outro: meus parabéns, você está simpático e muito bem vestido; a resposta que você deu foi realmente maravilhosa, mais uma vez parabéns. As pessoas ficam alegres e satisfeitas porque receberam um elogio. Entretanto, se alguém diz: você errou. Não devia ter agido assim, pois agiu com extrema ignorância, nem parece que é gente. Então, elas se aborrecem, se zangam, dizem que foram ofendidas.
Pergunta-se: Que é elogio? Que é ofensa?
O elogio é uma carícia, enquanto que a ofensa é uma agressão, que se faz ao ego alheio. Não fora tão egoísta, e seria assim, menos ofendido. Compreendendo a origem da ofensa, podemos reduzir nossos aborrecimentos e para tal, basta diminuir o egoísmo.
Ora se a ofensa é uma agressão ao ego, e como Deus não é egoísta, jamais poderá ser ofendido. Uma vez compreendido, mudaremos então o nosso modo de pensar e conseqüentemente o nosso modo de agir. Do exposto, conclui-se que o maior responsável pelas ofensas é o ofendido sendo ainda, aquele que recebe os aborrecimentos, e não o ofensor.
Para realizar bem uma tarefa, é necessário o conhecimento pleno do assunto, caso contrário, os resultados não serão satisfatórios. É o que está ocorrendo atualmente em todas as nossas atividades, inclusive nas mais importantes. Assim, o padre ou o pastor, durante um casamento, declara várias vezes a necessidade de amor entre os casais, diz que o caminho para a solução dos problemas é o amar, e nós repetimos freqüentemente essas palavras. Mas, que é o amor? Que é amar? Já pensaram? Ora, se temos dificuldades em encontrar pensamentos e palavras para nos explicar o que seja o amor, o amar, que dirá então, da dificuldade para exercer? (7)
Outro caso se dá nas salas de aula, onde o professor declara a necessidade de estudar, os pais também pedem a seus filhos que estudem, porém, ninguém teve o cuidado de explica o que é estudar, e assim os alunos não podem estudar corretamente, pois o que é estudar? (8)
Pior ainda é a confusão que todos fazem sobre a palavra educação. Entendemos que a educação é o único e verdadeiro caminho para solucionar os problemas que nos assolam, mas o que se oferece aos jovens, não passa de uma modesta, simples e até mesmo rústica instrução. Há uma diferença consideravelmente grande entre educação e instrução. A educação, o despertar da consciência, é o verdadeiro tema que deveria ser abordado.(9, 10)
Assim, as atuais campanhas de prevenção às drogas e também os processos de recuperação de drogados, apresentam poucos resultados, posto que são baseados no ego, cujo principio, consiste em oferecer algo, que no entender dos dependentes, parece mais valioso. Deste modo, tanto a recuperação quanto a prevenção, tornam-se precárias no momento em que o indivíduo depara com a desilusão e por isso, se sucedem as recaídas não apenas entre os drogados, mas também entre os delinqüentes supostamente recuperados. O mecanismo desta prática baseia nas sutilezas do ego que consiste em eliminar os pequenos egos visíveis, em benefício dos grandes egos invisíveis, mas, no desejo de se obter cada vez mais vantagens, tornam-se então, insatisfeito, e por isso acontecem com freqüência, as recaídas. Como o verdadeiro desejo do homem é a felicidade e como esta tem origem no cumprimento de suas obrigações, torna-se natural e fácil orientar a pessoa neste sentido. Eis o segredo da sua eficácia.
A verdadeira recuperação e também a prevenção devem basear apenas na conscientização do indivíduo. Como este processo não oferece prêmios ou castigos, mas recomenda simplesmente o cumprimento alegre e prazeroso de suas obrigações, é então, eficaz e permanente.

Palestra proferida na Loja Maçônica Obreiros da Caridade em Uberlândia.

A força da consciência

O homem é composto por três elementos: corpo, ego e consciência. Quando prevalece a consciência, o homem se diz educado, quando prevalece o ego, se diz egoísta. O homem integral é aquele que seu corpo goza de boa saúde, tem o ego instruído e a consciência despertada. Este homem é feliz...
A maioria das pessoas, não acredita na força da consciência. Declara que muitas delas, pelos crimes que cometem, não têm consciência. Entretanto, isto não é verdade, pois a consciência é o agente mais eficaz na mudança de conduta do homem. Esta verdade pode ser facilmente demonstrada.
Existe uma recomendação que está escrita no grande livro sagrado, a Bíblia: "não julgueis para não serdes julgados", que é do conhecimento de todos, e da qual ninguém duvida, todos acreditam.
Contudo, algumas pessoas, entendem que esta recomendação insinua uma ligeira negociação onde, eu não lhe julgo e você também não me julga, e tudo bem. Ainda, induz ao medo, temor, receio e até a covardia, e então não é educativa. O correto será simplesmente: Não julgar, apenas por não ser da nossa competência. Isto sim é educativo.
Ninguém discorda desta interpretação. Todos compreenderam com facilidade a minha idéia, sim, simplesmente porque ela não é minha, mas nossa. Ela já estava impressa na consciência de todos, apenas encoberta por uma camada de ego, estava adormecida pelo ego. O que fiz, não foi senão, limpar esta consciência, não foi senão, acordar esta consciência que dormia embalada pelo ego. Isto sim é educar.
Educar é, pois, despertar a consciência adormecida pelo ego, mister de educadores e não de técnicos ou profissionais, pois sua ação é na essência interna do homem. A consciência é o elemento que nos orienta indicando o que devemos praticar, isso é ser ético.

domingo, 18 de junho de 2000

Utopia

Por diversas vezes, o homem, tem se mostrado paradoxal com atitudes incompreensíveis. Por um lado, procura realizar seus desejos, por outro, sente receio. Se for pesquisador, não pode ser conservador.
A humanidade, que é evolutiva, está, entretanto, presa ao temor. A razão do medo é a incerteza do futuro, e o homem, que é a sua unidade formadora, prefere conservar suas idéias, mesmo com resultados insatisfatórios, a arriscar uma nova teoria. Justifica seus receios, mostrando-se exigente e até mesmo com uma aparente sensatez, dizendo que as idéias avançadas são utópicas. Busca resultados imediatos, de curto prazo, mas nem repara que os métodos usados são antigos e ineficazes.
Quando Napoleão Bonaparte conquistou o Egito, maravilhado diante das obras arquitetônicas daquele antigo império, declarou: Do alto dessas pirâmides, 40 séculos vos contemplam.
Há mais de 4.000 anos, essas pirâmides foram erguidas para a contemplação da humanidade. Naquela época, a sociedade já possuía governo, os faraós e já havia corrupção; já havia polícia e já havia crime; já havia escola e já havia escravidão; já havia religião e já havia pecado; já havia família e já havia desamor... E tudo isso, é o que ainda temos.
Hoje, estamos vencendo 2.000 anos de cristianismo e ingressando no terceiro milênio.
A ciência e a tecnologia tiveram um avanço espetacular: já fomos à lua e dela regressamos, inventamos a luz elétrica, descobrimos os segredos do átomo e recentemente, desvendamos o código genético; a população humana explodiu a casa dos seis bilhões de habitantes, porém, lamentavelmente, na área do comportamento humano, estamos como antes: construindo pirâmides, na mais clara das utopias.
Para vencer este costume, e buscar urgentemente, respostas para nossas angústias, nossos males, nossas preocupações, nossos receios, é então necessário, ampliar nosso horizonte e buscar a verdadeira solução que começa abandonando o cotidiano e o convencional, e ainda esse sentimento de medo e receio que é o alimento dos covardes, aceitando as idéias inovadoras, próprias dos arautos, que são dirigidas principalmente, aos corajosos e destemidos.
Só assim, não seremos utópicos.

sábado, 13 de maio de 2000

Violência

A grande imprensa tem, freqüentemente noticiado a realização de muitos estudos e campanhas para combater a violência, entretanto, com mais freqüência ainda, noticia a sua vertiginosa propagação. Há uma incoerência, algo está errado.
Atualmente, a humanidade está vivendo um momento de grande confusão. As pessoas demonstram, com suas atitudes, que estão perdidas, sem rumo, sem leme, sem norte... Precisamos, portanto, buscar um caminho e que no entender de alguns, haverá de passar pelas trilhas do conhecimento. Esta é a chave. Para explicar, portanto, aquela incoerência, basta entender, que jamais alguém pode executar bem uma tarefa, sem o conhecimento pleno do assunto.
Ora, tornou-se comum as discussões sobre a violência, porém, sempre com uma abordagem superficial, mostrando apenas seus efeitos, portanto, sem a eficácia desejada. Necessitamos, pois, de aprofundar e proceder a um estudo completo, conceituando, classificando, identificando a origem e sugerindo a sua solução. Assim, a violência deve ser considerada como uma agressão ao patrimônio, material, corporal, intelectual ou moral, seja ele, próprio ou alheio e são de natureza, explícita e velada.
As violências explícitas são aquelas cujos efeitos são visíveis, tais como: espancamentos, assaltos, furtos, roubos, assassinatos, e outras e são na maioria, uma conseqüência das violências veladas e até facilmente, reprimidas pela polícia.
O uso de drogas é uma violência, porque agride, não somente o patrimônio próprio que é a saúde do usuário, mas também, porque agride o patrimônio ecológico, uma vez que o homem tem a obrigação de colaborar com a natureza, e esta colaboração não se faz estando ele drogado. Entende-se assim, que o uso de drogas é uma dupla violência, e uma pessoa de razoável alcance, compreende com facilidade, a gravidade desse ato. O usuário de drogas é um infeliz que não teve condições para se preparar, portanto, é um indivíduo oco, vazio e inseguro, e necessitando de uma auto-afirmação, procura nas drogas, a comprovação de que é uma pessoa ímpar, moderna, autêntica e capaz, mas é exatamente o contrário: vulgar, antiquado, falso e incapaz. Ele é o mais violento, já que se auto violenta, pode também violentar os outros e não devemos debitar nas drogas, o ônus de outros crimes, como se ouve freqüentemente, mesmo porque, o uso de drogas é uma conseqüência e não uma causa, e o usuário: vitima, e não réu.
Já, nas violências veladas, os resultados não são imediatos, mas, futuros e, portanto invisíveis. Seus exemplos são abundantes tais como: insinuações, propagandas enganosas, promessas vãs, crendices, modismos, falsas orientações, omissões, principalmente as dos nossos governantes e outras, cujo habitat é a ignorância. São na maioria, as mais danosas, não apenas, por ser difícil de combate-las ou reprimi-las, mas por ser um estimulo para as praticas de violências explicitas, como foram as rebeliões na FEBEM, invasões de terras, e muitas outras, pois em toda ação, existe uma reação contrária.
Ainda podemos considerar, como violência velada, certas leis criadas por um Congresso, cujos deputados e senadores estão subornados por propinas, cargos ou acordos sugeridos pelo Executivo, ou porque, muitos foram eleitos às custas de donativos oferecidos por banqueiros, empreiteiros, empresários e grupos financeiros, tornando-os comprometidos e reféns, e assim, tais leis são criadas para atender os interesses daqueles, e que certamente, não são os interesses do povo. A imprensa tem noticiado com bastante ênfase e clareza, a existência de tais grupos, bem como, os valores e os nomes dos candidatos que receberam esses donativos, que mais parecem investimentos.
Embora legais, as especulações financeiras, na maioria das vezes, são consideradas como violência, pois, as ambições dos especuladores são ilimitadas, não medindo conseqüências. Isto é o que fazem os mega investidores, insaciáveis, que não se satisfazem, nem com seus grandes lucros e tudo isso é feito às custas das lágrimas, das ilusões e do suor alheio. Suas fortunas são incalculáveis e inimagináveis. Jamais usarão da sua infinitésima parte. Será que esses excêntricos colecionadores de dólares, não percebem suas estultices? Será que não percebem os problemas que estão causando aos outros? Essa ambição excessiva e descontrolada, nascida do ego, é a causa primária de toda a violência, a qual será combatida, não pela força, mas, apenas pela Educação.
A grande dificuldade está na interpretação da palavra educação, que é freqüentemente confundida com instrução. Este equívoco, responsável pelos fracassos das tentativas de acabar com a violência, deve ser eliminado, pois educar é despertar a consciência adormecida pelo ego através da meditação sobre pensamentos educacionais, mister de educadores e não de profissionais ou técnicos, posto que, sua ação é na essência interna do homem. A consciência é o elemento que nos orienta, mostrando-nos o que é correto praticar. Isto é ser ético.
Este deverá ser o nosso procedimento... Neste dia da Redenção...