domingo, 14 de janeiro de 2001

Oh que saudades que tenho...

Eu me lembro, eu me lembro, era pequeno... a caderneta de poupança rendia 50% ao mês e a CPMF cobrava apenas, 0,25% sendo assim 200 vezes menor; os juros do cheque especial estavam próximos de 80%, portanto 1,6 vezes a poupança. Havia ainda naquele tempo, ofertas de empregos e as lojas estavam repletas de clientes embora com remarcações, mas os reajustes salariais compensavam razoavelmente bem; não havia mendicância, pois o desemprego era pequeno. De repente tudo mudou! De uma hora para outra, nossa moeda ficou ao par com o dólar. Seria real? Sim, era o Real. Mas como foi? Descobriram ouro em nosso subsolo? Aumentamos por ventura, o nosso parque industrial ou os nossos campos agrícolas? Não. E como se deu esse milagre?
Essa pergunta somente poderá ser respondida por um economista. Pois bem, sou economista, não por formação, mas por necessidade, como são quase todos os brasileiros e os economistas por necessidade sabem mais, então vejamos.
Hoje temos uma moeda praticamente estável, contudo os problemas aumentaram consideravelmente e por que? Porque agora a caderneta de poupança está rendendo apenas 0,6% ao mês (se isso pode ser chamado de rendimento) enquanto que a CPMF está em 0,3% e promete aumentar, correspondendo à sua metade; o cheque especial está próximo de 10% sendo mais de dezesseis vezes superior. Relacionando os valores verificamos que a CPMF aumentou em 10.000% (não me lembro de algo que teve um aumento semelhante) e o aumento do cheque especial fica acima de 1000%, e que no entender de um economista por necessidade, aí que está o caminho encontrado pelo atual governo para transferir o dinheiro do povo para os cofres públicos e banqueiros; sem dinheiro, não se compra, então não se produz, conseqüentemente, não tem empregos, mas sim violência e mais violência, é o que hoje abunda...
As atuais reportagens sobre as posses dos novos prefeitos mostram quantas prefeituras estão quebradas, se desfazendo, sucateadas; qual será a razão de tudo isso? O plano real, ou a corrupção? Provavelmente os dois, mesmo porque o Plano Real já é uma corrupção. Considerando, pois, que a história do homem é naturalmente evolutiva, mas por vezes também é cíclica e assim já em 1639, o padre Antônio Vieira, o maior orador sacro da língua portuguesa, disse em um dos seus sermões: “Muito deu em seu tempo Pernambuco; muito deu e dá hoje a Bahia, e nada se logra; porque o que se tira do Brasil, tira-se do Brasil; o Brasil o dá, Portugal (hoje, o FMI) o leva." Isto é exatamente o que está ocorrendo conosco, sem beneficio para o povo e sem nada luzir para o país, mas trazendo-nos somente incertezas e desilusões.
Toda essa tristeza e aflição me fazem lembrar do passado tranqüilo que tivemos, portanto... Oh que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha inflação querida que os anos não trazem mais...