sábado, 11 de novembro de 2000

Palestra aos professores

Senhores.

O que estamos assistindo neste morrer de milênio, é simplesmente estarrecedor. O homem não suporta mais as pressões que ele mesmo criou. As notícias divulgadas pela imprensa mostram que estamos atravessando um mar de violências criadas por um dilúvio de confusões repetindo com horrores uma nova Babel. Precisamos urgentemente buscar as soluções, porém a grande dificuldade consiste em renunciar as trilhas antigas do nosso passado para encontrar o verdadeiro caminho, pois devemos volver o nosso pensamento para o futuro alvissareiro do terceiro milênio que está preste a raiar.
Considerando que o pensamento é o agente primário de nossas ações. Entendemos então que o pensar corresponde ao primeiro passo desta arrancada para a grande corrida em busca de nossa redenção, entretanto como o homem de hoje não têm o hábito de pensar, suas ações são por isso desconexas e sem eficácia e busca justificar declarando que os novos caminhos não passam de uma verdadeira utopia.
Recente reportagem sobre o uso de drogas mostra o grande despreparo da sociedade para resolver este problema. Pais se justificam acusando os professores de não orientar seus alunos, enquanto que os professores se desculpam dizendo que os pais não educam seus filhos. Essas acusações mútuas refletem a incompetência destes na orientação dos nossos jovens sendo esta a origem da sociedade desorientada que somos.
No passado, quando a população mundial era pequena, havia espaço para todos. Contávamos também com uma tecnologia simples, portanto não tinha uma grande variedade de produtos de consumo que tanto atraem as pessoas por isso a vida era calma sem concorrências e o velho modo de pensar foi então suficiente para resolver os poucos problemas da sociedade; hoje, porém, a população mundial explodiu a casa dos seis bilhões de habitantes reduzindo deste modo o espaço vital de cada um e assim nas grandes cidades, as pessoas se acotovelam nervosamente a ponto de explodirem.
A ciência e a tecnologia desenvolveram assustadoramente. Descobrimos os segredos do átomo, já fomos à Lua e dela regressamos, inventamos a luz elétrica, desvendamos o código genético, entramos na era da informática e outras descobertas mais, entretanto, na área do pensamento humano estamos como antes e esta é a razão da vertiginosa escalada da violência. Os conceitos vagos vindos do passado, não são suficientes para resolver os problemas do presente, pois é necessário estabelecer com precisão os significados das palavras e conseqüentemente das idéias. Não basta a sensação, é necessária a exatidão. Para explicar esta exigência, é bom entender, que jamais alguém pode executar bem uma tarefa, sem o conhecimento pleno do assunto.
Um dos exemplos mais importante e de fácil compreensão é sobre o sentido da palavra ofensa. Constantemente estamos ouvindo e dizendo que ofendemos e que fomos ofendidos, mas não somos capazes de conceituar com precisão o que seja ofensa, temos apenas a sensação de algo ruim, contrário ao elogio. Porém, conhecendo com precisão seu conceito, mudaremos certamente o nosso modo agir. Para esclarecer, respondam mentalmente: quem comete o maior equívoco, o ofensor ou o ofendido? Para responder com certeza esta pergunta, é necessário conhecer com exatidão o significado de ofensa. Qual será a resposta? Por que? Outra palavra freqüentemente usada e até mesmo recomendada como sendo o único caminho para solucionar os conflitos, é o amor, ou mesmo o amar. Mas o que é amar? O que é amor? Ora, se estamos com dificuldades para definir ou conceituar o que é amar, que dirá então da dificuldade de amar? Qual será ainda a qualidade do nosso amor? Na área escolar encontramos muitos outros exemplos, tais como: estudar, conhecer, saber, aprender e principalmente uma palavra usada por todos, sem um mínimo cuidado, dita por qualquer um e ainda com a presunção de ser um grande administrador, ou comentarista, ou diretor, ou professor, ou pai, ou um outro qualquer, refiro-me à palavra educação.
É triste, muito triste ouvir as pessoas dizendo coisas que nem sequer têm conhecimento, ainda que seja mesmo um conhecimento superficial, pré cientifico, pois os cotovelos não foram feitos para falar, mas sim, para doer. Este é o comportamento atual das pessoas mesmo das que têm o mister de nos governar. Por isso nada luz, nada resolve, porque para propor uma solução é necessário o conhecimento pleno do assunto. Considerando a violência, a corrupção, o uso de drogas e outros, antes devemos conceituar, determinar as causas e por último propor as soluções. Então: que é violência? Qual a origem da corrupção? Por que muitos usam drogas? Procedendo de modo semelhante, entendemos que o verdadeiro e único caminho para combater os males que nos afligem é a educação.
Educar é eduzir, isto é extrair o que de bom há no homem pelo próprio homem através de meditação sobre princípios educacionais trazidos por educadores e não técnicos ou profissionais, pois sua ação é na essência interna do homem: a consciência. Entretanto, lamentavelmente muitas pessoas não compreendendo o que seja a consciência erradamente não acreditam e inclusive confundem educação com instrução.
Concluindo: a consciência é o único agente eficaz que nos conduz corretamente sem a necessidade de guarda ou vigia, pois não seremos capazes de transgredir e não podemos dizer reeducar, posto que se foi educado não comete delitos, se não foi, não se reeduca. O homem consciente não tem medo, receio e temor, não é covarde, mas sim feliz.
Assim chegamos á conclusão de que a educação é o único e verdadeiro caminho para solucionar os problemas que afligem a humanidade. Mostrarei agora um exemplo vivo, experimentado por todos nós, respondendo a pergunta inicialmente formulada. Comecemos então pelo conceito: Ofensa é uma agressão ao ego alheio e por isso nos aborrece; elogio é urna carícia, portanto nos agrada. Ora, então para ser menos ofendido, basta ser menos egoísta, pois reduzindo ego, reduz conseqüentemente os aborrecimentos e logo quem comete o maior equívoco é o ofendido. Felizmente é deste modo, pois o nosso bem estar há de estar em nossas mãos e não nas alheias. Seguindo esse raciocínio, concluímos facilmente, que se Deus não é egoísta, jamais poderá ser ofendido e mudamos assim, todo o nosso modo de pensar, apenas por ter conceituado claramente a palavra ofensa. O grande problema do homem não consiste em resolver o dilema: perdoar ou vingar, mas sim, em não se ofender.
Que essa mudança de milênio seja o prenúncio de mudanças em nosso comportamento.